De acordo com a OMS, cerca de 40% da população sofre com algum distúrbio do sono. Conheça os mais comuns
Gonza Rodrigues / Arte ZH
Passamos um terço da vida dormindo. O que parece uma perda de tempo para muita gente é uma atividade essencial para a saúde. Durante o sono, o organismo volta à condição na qual iniciou o dia, com um repouso que inclui relaxamento muscular e redução da pressão arterial, dos batimentos cardíacos e da produção de urina. É também o momento de consolidação da memória e de termo regulação, o controle da temperatura corporal. Além disso, diversos hormônios são fortemente influenciados pelo sono, como a insulina, que controla a glicose no sangue, a leptina, responsável pela saciedade, a grelina, que estimula o apetite, e a somatotrópica, que age no crescimento.
Dormir de forma adequada é um dos três pilares fundamentais para se ter uma vida saudável – os outros são exercício físico regular e boa alimentação. Dormir bem significa ter ritmo (sono regulado, com um horário para dormir e outro para acordar), quantidade (varia de pessoa para pessoa) e qualidade, ou seja, um sono reparador, sem interrupção, que impede a sonolência ao longo do dia.
Pesquisas demonstram que o sono ruim contribui para o ganho de peso – existem inúmeros trabalhos científicos mostrando esta relação. Um sono ruim aumenta todos os fatores inflamatórios sistêmicos além de diminuir a sensibilidade à insulina periférica e diminuir a vasodilatação.
A privação do sono é um problema sério. Nós vivemos em um mundo maluco, corrido, falta hora para dormir. E as pessoas acham que não é importante
Uma pesquisa divulgada em 2009 pela Associação Brasileira do Sono mostrou que 43% dos brasileiros não tinham um sono restaurador e apresentavam sinais de cansaço no decorrer no dia.
Não se sentir descansado mesmo após uma noite aparentemente normal pode ser um indicativo de distúrbio, o que, além de diminuir o bem-estar e a produtividade na rotina, pode levar a quadros mais graves, como doenças cardiovasculares e depressão.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, cerca de 40% da população apresenta algum tipo de distúrbio do sono. Insônia, terror noturno, apneia e sonambulismo são alguns deles. Conheça os tipos mais comuns e também os mais assustadores.
Paralisia do sono
Um distúrbio relativamente comum, caracterizado pela total falta de mobilidade do corpo por um momento, normalmente ao acordar (mais raramente, antes do adormecer), por mais que a pessoa esteja consciente. Em alguns casos, o fenômeno pode ser acompanhado de alucinações.
O sono é formado por dois estágios: o REM (sigla do inglês, que significa movimentos rápidos dos olhos), caracterizado por uma atividade cerebral mais rápida e de baixa amplitude, e o não-REM, mais lento, que, por sua vez, é subdividido em três fases, de acordo com a profundidade. No REM, ocorrem os sonhos mais vívidos e o relaxamento muscular é máximo. Ambos vão se alternando ciclicamente ao longo da noite. Enquanto dormimos, o corpo é condicionado a não responder aos incentivos do sonho. Na paralisia do sono, o cérebro acorda de um estado REM, mas o corpo segue paralisado.
– O cérebro entende que você ainda está dormindo. A mente acorda, e o corpo, não.
Não se sabe exatamente o que leva às alucinações, mas uma das hipóteses é que elas sejam fruto de um estado de pânico iminente, e o cérebro está hiperalerta
O distúrbio está bastante relacionado ao estresse, à falta e à irregularidade do sono. Há estudos que dizem que é genético.
O fenômeno também é um dos sintomas da narcolepsia, doença em que a pessoa adormece em momentos inesperados, causada pelo déficit de um neurotransmissor estimulantes (a hipocretina) no cérebro.
– Pacientes com narcolepsia têm intrusão do sono REM quando estão acordados. Há perda de força muscular (a pessoa pode adormecer e cair), paralisia do sono e sonolência diurna efetiva.
Existe medicação para conter o distúrbio da paralisia do sono, mas, como os efeitos colaterais são significativos, somente em casos de narcolepsia os remédios costumam ser indicados. Para quem sofre somente do primeiro sugere- se relaxar e tentar movimentar os olhos de um lado para o outro. Ter uma boa higiene do sono, ou seja, tudo aquilo que envolve a preparação para dormir, também ajuda.
Respiratórios
A apneia e o ronco são distúrbios de origem respiratória e também os mais comuns entre toda a população.
A apneia obstrutiva do sono é caracterizada por pausas na respiração associadas a repetidas quedas na quantidade de oxigênio nas artérias durante o sono. A parada (apneia) ou a redução (hipopneia) do fluxo de ar pelas vias aéreas dura pelo menos 10 segundos. A pessoa pode não ter consciência, mas tem vários micro despertares e o sono fica fragmentado.
Além disso, como entra menos oxigênio no organismo, o distúrbio aumenta o risco de doenças cardiovasculares.
De 90% a 95% dos casos de apneia, de acordo com a Associação Brasileira do Sono, são acompanhados por ronco, problema causado pelo estreitamento ou mesmo obstrução das vias respiratórias. Sozinho, o problema pode não ser prejudicial, mas serve de alerta para a apneia.
A apneia ocorre em todas as idades e todos os gêneros, mas é mais recorrente em homens de meia-idade com excesso de peso.
As crianças apresentam respiração ruidosa, têm sono agitado e normalmente transpiram muito ao dormir.
Terror noturno
Mais comum entre as crianças, o terror noturno é uma parassonia – distúrbios de movimentos anormais durante o sono – em que o indivíduo grita, como se estivesse sendo atacado. Depois, ele acorda desesperado. Os episódios costumam ter duração de um a três minutos.
O problema não é sinônimo de pesadelo, situação na qual a pessoa acorda ao se assustar e sentir medo. No terror noturno, os gritos e a agitação ocorrem quando se está dormindo. Além disso, os pesadelos ocorrem no sono REM e o terror noturno, no não-REM.
Sexomnia
A sexomnia também é um tipo de parassonia. A pessoa que sofre desse distúrbio tem comportamentos sexuais enquanto dorme. Ela não percebe que está fazendo tais atividades (normalmente, masturbação) e, quando acorda, não lembra do ocorrido. Rara, a síndrome passou a ser classificada como um distúrbio do sono recentemente.
– É um sonambulismo com comportamento sexual. O tratamento pode ser comportamental ou com medicação – Esse distúrbio ocorre durante o estado de sono não-REM.
Sonambulismo
Também classificado como parassonia com manifestação no estado não-REM, o transtorno se caracteriza pela realização de atividades motoras sem que o indivíduo tenha total consciência do que faz. Parte de suas funções cerebrais continua adormecida, e ele fica em um estado de transição entre o sono e a vigília.
Normalmente, os episódios ocorrem uma ou duas horas depois que a pessoa adormeceu, duram de poucos segundos a meia hora e terminam quando ela acorda ou volta para cama para continuar dormindo. Na manhã seguinte, a pessoa não lembra ou recorda muito pouco do que aconteceu.
Transtorno alimentar noturno
Outra parassonia, o transtorno alimentar noturno envolve ingestão calórica durante o sono, ou seja, a pessoa se levanta para comer. Nesse distúrbio, a pessoa também não tem plena consciência do que está fazendo e pode não lembrar do episódio no dia seguinte.
É importante realizar uma polissonografia (exame do sono), pois, em alguns casos, o paciente pode apresentar outras síndromes. O tratamento inclui medicação e mudanças comportamentais.
Síndrome das pernas inquietas
Entre os distúrbios do sono mais comuns também está a síndrome das pernas inquietas – segundo a Associação Brasileira da Síndrome das Pernas Inquietas, estima-se que o problema acometa 5% da população geral e 15% da mundial adulta.
Nela, o indivíduo queixa-se de um desconforto nas pernas quando vai repousar, o que leva a uma necessidade compulsiva de mexê-las. Movimentos involuntários nos membros inferiores durante o sono e a vigília também ocorrem em aproximadamente 80% dos casos.
O distúrbio pode ter diferentes causas. Uma delas é genética, quando o problema é chamado de primário ou familiar. Anemia e baixos níveis de ferro no sangue já foram associados a esses sintomas, assim como outras doenças crônicas (problemas neurológicos e renais) e transtornos de hiperatividade e déficit de atenção. Algumas mulheres desenvolvem a síndrome das pernas inquietas durante a gravidez.
Insônia
Outro problema frequente é a insônia, caracterizada pela incapacidade de iniciar ou manter o sono. Geralmente causada por hábitos inadequados, ela pode estar relacionada a distúrbios do humor, como ansiedade e depressão. É difícil identificar qual dos dois vem primeiro.
Se os sintomas ocorrerem pelo menos três vezes por semana e por mais de três meses, a pessoa tem um quadro crônico
A insônia é mais comum entre as mulheres:
– Essa incidência está relacionada a questões hormonais e também comportamentais. O público feminino tem tendência de culminar pensamentos durante a noite.
A insônia é o terceiro maior motivo de procura por ajuda médica quando o assunto é sono. Para o tratamento, normalmente é necessária uma mudança na rotina, como reduzir estímulos ao cérebro durante a noite, diminuir a luminosidade, não trabalhar em horários próximos ao de dormir e evitar cafeína.
E você apresenta qualquer alteração do seu sono, procure seu médico, e peça ajuda.
Nós da Clínica De Angelis & Trivellato teremos um enorme prazer em ajuda-lo.