O novo coronavírus desafiou a comunidade médica e científica e, ainda hoje, traz inúmeros questionamentos. Os pesquisadores e profissionais da saúde precisam entender o comportamento do vírus e, ainda, buscar explicações sobre complicações que permanecem mesmo após a recuperação da doença.
De acordo com uma revisão de literatura publicada na revista científica Nature Medicine, em março de 2021, os pacientes de COVID-19 continuam demandando recursos de saúde meses após o diagnóstico positivo da doença, devido a essa série de manifestações clínicas persistentes e prolongadas na chamada Síndrome pós-covid.
O que é a Síndrome pós-covid?
Como você sabe, a infecção por COVID-19 gera uma resposta inflamatória intensa, que muitas vezes tem repercussões respiratórias, cardiovasculares, intestinais, neurológicas e renais. Após essa infecção, o paciente ainda pode ter muitas complicações que exigem acompanhamento multidisciplinar posterior.
A chamada síndrome pós-covid é considerada uma condição inflamatória multissistêmica e difusa, estando associada a problemas no sistema musculoesquelético e no sistema nervoso central. Em muitos casos, os pacientes voltam a apresentar sintomas algumas semanas após a cura da doença.
As causas para essas ocorrências ainda não são totalmente conhecidas e não sabemos quem ou o porquê apresentará sintomas.
Além disso, existem três hipóteses para a ocorrência de problemas nos sistemas musculoesqueléticos e nervoso após a recuperação da COVID-19.
Níveis elevados de Interleucina 6
A Interleucina 6 é um tipo de proteína produzido pelos leucócitos. Seu nível fica elevado durante o quadro inflamatório produzido pela COVID-19, sendo que essa proteína é uma das grandes responsáveis por anemias, alterações hepáticas e sensação de cansaço.
Hiperativação da tireoide
Outra hipótese é a de que os sintomas pós-covid se relacionam à hiperativação da tireoide, o que ocorre durante a fase aguda da infecção. Esse quadro explica sobretudo a fadiga intensa observada nos meses posteriores à doença.
Anemia
Por fim, a anemia é uma consequência comum nos casos mais graves de COVID-19, principalmente em pacientes que têm baixa reserva de ferro no organismo. Assim, o estado anêmico após a doença pode favorecer sintomas como a fadiga persistente.
Quais são os principais sintomas da Síndrome pós-covid?
Os sintomas podem durar vários meses após a recuperação da infecção por COVID-19. Entre os mais comuns, estão:
Além de causarem o mal-estar físico, esses sintomas podem também levar a impactos em diversos setores da vida dos pacientes. Por exemplo, a fadiga intensa e os déficits cognitivos podem prejudicar a rotina e afetar a produtividade.
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Ainda, a Síndrome pós-covid envolve questões de saúde mental. Isso porque as pessoas que já foram diagnosticadas com COVID-19, e mesmo as que não foram, podem desenvolver medo e ansiedade frequentes, tristeza pela morte de amigos e familiares, preocupações em relação a problemas financeiros, solidão devido ao isolamento social, entre muitos outros pontos.
Quais são as melhores estratégias ligadas à recuperação da Síndrome pós-covid?
Infelizmente, ainda não existem medidas oficiais para a prevenção da Síndrome pós-covid. Porém, a melhor estratégia para conter os sintomas e promover a recuperação mais rápida é o acompanhamento médico especifico.
Além da avaliação médica, com testes funcionais, exames complementares podem se fazer necessários, para aprofundar a avaliação e auxiliar no direcionamento do programa de reabilitação, para maior efetividade e segurança. Mais além, exames complementares são também necessários para estratificação de risco e liberação para a prática de exercício físico após a ocorrência da COVID-19. Desta forma, é possível determinar a capacidade funcional do indivíduo, realizar a estratificação de risco e verificar os limiares de treinamento a serem observados para uma adequada prescrição do programa de reabilitação.
Como os pacientes moderados têm acometimento de pequenas vias aéreas, é importante avaliar clinicamente e com exames funcionais e de imagem a intensidade deste acometimento e introduzir terapêutica e cuidados adequados voltados à recuperação. A COVID-19 também está associada a complicações cardiovasculares, como miocardite, infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca, arritmias e tromboembolismo venoso. Um estudo mostrou que a cardiomiopatia pode estar presente em 33% dos pacientes com COVID-19, além disso, a severa inflamação sistêmica e o estado de hipercoagulabilidade estão associados ao maior risco de rompimento de placa aterosclerótica e infarto do miocárdio. A própria doença cardiovascular preexistente constitui fator de risco para maior gravidade da COVID-19. Pacientes com insuficiência cardíaca hospitalizados por COVID-19 apresentam um alto risco de complicações e mortalidade mais elevada.
Os casos leves, com exames normais e boa recuperação, sem necessidade de reabilitação, precisam de orientação para o aumento do nível de atividade física e realização de exercícios de acordo com as recomendações para as diferentes faixas etárias e necessidades individuais. Como ressaltado em uma publicação do British Journal of Sports Medicine, estamos vivenciando duas pandemias: a COVID-19 e o aumento da inatividade física.
O cuidado a pacientes com sarcopenia (perda muscular), fragilidade (perda da reserva funcional) e/ou síndrome metabólica (sobrepeso e distúrbios metabólicos) demandam avaliação e seguimento nutricional. Aqueles com quadros de ansiedade, depressão e estresse pós-traumático e/ou evidência de disfunção cognitiva demandam avaliação e seguimento psicológicos. Pacientes com quadros neurológicos adicionais demandarão programa de reabilitação e exames complementares distintos.
Como você viu, mesmo após meses da cura da doença, muitos pacientes apresentam complicações. Assim, a Síndrome pós-covid ainda desafia a comunidade médica e científica, exigindo uma abordagem multidisciplinar e um acompanhamento médico de qualidade.